Carolina de Jesus – Poetisa Brasileira

Ainda em início de carreira por volta de 1960, o jornalista Audálio Danta recebe a tarefa de fazer uma reportagem sobre os moradores de uma favela que se expandia na beira do rio Tietê, no bairro do Canindé. Em meio a tantas pessoas e histórias, Audálio encontra Carolina e seus 20 cadernos surrados e amarelos, de pura literatura, sofrimento e solidão.

Carolina Maria de Jesus, era catadora de lixo e fazia do seu trabalho também seus estudos literários, pois, era uma leitora voraz que consumia literatura por meio de livros e manuscritos que achava em meio a restos de coisas sem mais utilidades para alguns.

“A noite está tépida. O céu já está salpicando de estrelas. Eu que sou exótica gostaria de recortar um pedaço do céu para fazer um vestido.”

Os livros encontrados por Danta, estavam em formato de diário, esses que com um tom confessional, carregavam um registro doloroso e verdadeiro do cotidiano de uma mulher negra dos anos 50, favelada, catadora de papeis e mãe solo de 3 filhos pequenos. Mesmo Carolina sendo uma semianalfabeta, porquanto apenas estudou por pouco tempo na escola, trazia em suas frases, versos e parágrafos uma linguagem poética com fortes marcas de erudição. Talvez, não tenha sido fazer literatura o objetivo principal a qual provocou em Carolina intenções de se dedicar a escrita, e sim, registrar com a sua sensibilidade e vocabulário inventado a sua rotina de dor, miséria, fome e a dificuldade de se relacionar com sua própria existência.

“As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que marca com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de “viludos”, almofadas de “sitim”. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”

Mais tarde seu diário torna-se reportagem e posteriormente um livro que arrebata o Brasil – Quarto de Despejo. Carolina cria metaforicamente o título, baseando em explicações sobre sua condição, e retoma essa metáfora ao decorrer do livro, como por exemplo: “Eu classifico São Paulo assim: O Palácio, é a sala de visitas. A Prefeitura é sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.” Então, a poetisa negra da favela do Canindé se torna uma grande inspiração da literatura negra brasileira.

Na época, estimativas apontaram que foram vendidos mais de 100 mil exemplares. Diante de um sucesso nacional e internacional vindo de uma mulher negra favelada, surge também desconfianças sobre a autenticidade dos textos e dúvidas de sua capacidade de escrever sensitivamente com ironias. O poeta Manuel Bandeira testemunhando todo esse descaso com Carolina escreveu um artigo em sua defesa: “ninguém poderia inventar aquela linguagem, aquele dizer as coisas com extraordinária força criativa, mas típico de quem ficou a meio caminho da instrução primária.”

A partir dos anos 50 as favelas no estado de São Paulo e demais estados se multiplicaram, e personagens como a Carolina Maria de Jesus continuam existindo em todos os lugares do Brasil. Logo, é preciso reafirmar a importância da representatividade que a obra de Carolina deixa pra autoria feminina, para a literatura negra e para tantas mulheres marginalizadas. Pois, essa representatividade busca provar que as pessoas que são silenciadas, privadas das oportunidades de se expressar e fluir artisticamente, também são capazes de produzir boas obras literárias.

Este artigo contém trechos dos livros de Carolina Maria de Jesus! Você pode baixar o livro de Carolina Maria de Jesus pelo link: https://culturaemarxismo.files.wordpress.com/2019/02/edoc.site_1960-quarto-de-despejo-carolina-maria-de-jesuspdf.pdf

Link para acessar o acervo de fotos da favela do Canindé: http://www.acervosdacidade.prefeitura.sp.gov.br/PORTALACERVOS/ResultadosBusca.aspx?ts=s&q=favela%20do%20canind%c3%a9

Composições de Carolina, álbum completo: https://youtu.be/t3dzlAr4euo

Podcast sobre Carolina no spotify: https://open.spotify.com/episode/1CjjuIyBe0VjQ90FnDmRIc?si=NCAj0DfJQjeWnSmnlGYZBg

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