Cultura e Literatura de Guimarães Rosa: “Ave, Palavra”

Julho se aproxima e, com o mês do frio, um evento dos mais aguardados por quem gosta de cultura e literatura brasileira, de poesia e palavra, de sertão e encantamento: a Semana Rosiana.

De 12 a 17 de julho, apreciadores da obra de João Guimarães Rosa e interessados em revisitá-la ou aprender mais sobre ela poderão acompanhar, de qualquer lugar do Brasil e do mundo, os eventos, debates e encontros em homenagem ao escritor, pois eles acontecerão de forma on-line.

Serão seis dias de imersão no universo da Palavra, pois o mote da Semana é o livro póstumo Ave, palavra, bem como tudo o que a expressão verbal significa para esse autor:humanidade, transcendência, poesia.

Capa da Primeira Edição do Livro “Ave Palavra” de João Guimarães Rosa

Em sua 33ª edição, a Semana Rosiana é uma realização do Museu Casa Guimarães Rosa, da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e da DIMUS – Diretoria de Museus da SECULT, que conta também com os seguintes apoios: CEMIG; Espaço do Conhecimento UFMG; Oficina de Leitura Guimarães Rosa – IEB/USP; Instituto Cultural Arraial do Conto; Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa; Cordis Notícias; Grupo de Contadores de Estórias Miguilim; Grupo Caminhos do Sertão; Escola de Artes, Ciências e Humanidades de São Paulo – EACH; ICOMOS Brasil e UFOP.

O evento celebra a vida e obra do filho ilustre da cidade. Nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, Rosa posteriormente ganhou o mundo, formando-se em medicina em Belo Horizonte e depois ingressando na diplomacia, em 1934. De 1938 a 1942 serviu como cônsul em Hamburgo, onde vivenciou os horrores da II Guerra Mundial. Esteve na também na França e na Itália, mas, como atesta seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, a pequena e pacata cidade natal (e tudo o que ela representa) nunca deixou sua mente e seu coração, razão por que esteve sempre presente em sua obra. O discurso, proferido em 16 de novembro de 1967, três dias apenas antes de sua morte, começa e termina com a palavra Cordisburgo.

Dez anos depois da estreia com Sagarana, Rosa lançou em 1956 os volumes Corpo de Baile (novelas) e Grande sertão: veredas (romance), que definitivamente o consagraram. A saga de Riobaldo e dos bandos de jagunços com quem ele conviveu, a amizade com Diadorim, a dúvida quanto a existência do diabo, são aspectos do livro que provocam grandes questões metafisicas e existenciais nos leitores de diferentes gerações.

Em 1962, o autor nos brindou com os contos de Primeiras estórias e, em 1967, com as narrativas curtíssimas de Tutameia. Em 1969 e 1970, vieram à luz, respectivamente, os póstumos Estas Estórias (novelas) e Ave, palavra, livro celebrado na Semana Rosiana e que consiste na compilação de trinta e sete textos publicados em vinte anos de colaboração esporádica na imprensa. A saudação entusiástica à palavra, indicada no título (escolhido pelo autor) se revela na inclusão de textos que vão de aforismos, meditações e poemas a registros de diário, notas de viagem e crônicas. Em Ave, palavra, encontra-se uma faceta não tão conhecida do público, que é a heteronímia: Rosa criou personas literárias que são poetas, cujos nomes consistem em anagramas de seu próprio nome- Guimarães Rosa ou J. Guimarães Rosa. São eles: Soares Guiamar, Meuriss Aragão, Sá Araújo Segrim e Romaguari Sães, autores dos conjuntos poéticos “Às coisas de poesia”, “Novas coisas de poesia”, “Sempre coisas de poesia”, “Quando coisas de poesia” e “Ainda coisas de poesia”. Outro destaque do volume é o texto Pé duro, chapéu de couro, fruto da viagem que Rosa fez a Caldas do Cipó, na Bahia, onde presenciou, deslumbrado, uma vaquejada. O texto é uma “reportagem poética”, em que o autor homenageia o vaqueiro e o elege símbolo cultural do Brasil. Há ainda a série dos Zoos, retratos poéticos e aforísticos dos animais vistos pelo autor em suas visitas a zoológicos de várias partes do mundo, onde se leem micro-quadros poético-filosóficos como estes: “Pórtico: amar os animais é aprendizado de humanidade”; “A cigarra cheia de ci”; “Se todo animal inspira ternura, que houve, então, com o homem?”; “O dromedário apesar-de. O camelo, além-de. A girafa, sobretudo”. Mencione-se ainda “O Mau humor de Wotan”, publicado em 1948 no Correio da Manhã, conto-crônica em que Rosa narra a história do amigo Hans-Helmut Heubel, levado à morte pelo exército nazista.

A Semana Rosiana 2021 celebra Guimarães Rosa, o livro Ave, palavra, e, como eles, saúda com toda reverência a Palavra,matéria mais importante do escritor que disse, na voz de Riobaldo: “O que é pra ser – são as palavras!”.

Professora Marise Hansen – USP/SP

CONTATOS:

Museu Casa Guimarães Rosa – Avenida Padre João, 744, Cordisburgo/MG – CEP: 35780-000

Tel: (31) 3058-1587 / E-mail: museuguimaraesrosa@secult.mg.gov.br

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