Simone Beauvoir: O Segundo Sexo e o Feminismo

Simone de Beauvoir foi uma importante pensadora francesa do séc. XX, que trouxe diversas reflexões a respeito do feminismo, sobretudo da época de 1960 a 1980. Para podermos compreender o pensamento dessa filósofa é importante compreender primeiro a linha filosófica que ela seguia, o Existencialismo.

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A filósofa Simone de Beauvoir (Foto: Albert Harlingue/Divulgação)

Para entender o Existencialismo, é preciso regredir lá trás em nossa tradição filosófica grega, que compreende o mundo através da ideia de essência. Platão dizia, que existia uma verdade no mundo das ideias e deveríamos buscar essa verdade. Com essa tal verdade poderíamos denominar de essência. O mundo se consolidava através deste ideal de essência, na realidade irá prevalecer essa ideia tanto na antiguidade quanto na idade média. Ademais com o advento do cristianismo, o ideal de essência se desenvolve ainda mais, pois existe a ideia de que deus teria criado o mundo e cada coisa já teria sua essência em formato imutável.

No renascimento houve uma nova configuração de mundo, que trouxe uma nova esfera econômica e social, sobretudo uma nova esfera científica e filosófica. A partir desse período ficou ainda mais difícil sustentar esse ideal de essência, pois no séc. XIX por exemplo até a biologia passa a admitir que as coisas estão em constante mutação com o Darwin. E é nessa linha que o Existencialismo se insere, na ideia que não existiria essência pra nada. Logo, o Existencialismo compreende que o mundo se dá em meio a esse processo.

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Em meio a este pensamento, que Jean Paul Sartre desenvolve sua famosa frase: “A Existência precede a Essência.” Ou seja, primeiro a gente existe e ai conforme vamos produzindo a nossa essência a nossa existência vai se tornar a nossa essência. Não há nada pré-determinado, o ser humano se cria o tempo todo, assim, Sartre compreendia que o homem era livre para se criar.

Diante dessa corrente vem a angustia da liberdade, do homem que não sabe se criar, não sabe que caminho seguir, e é dentro desta ordem que se estabelece as escritas da Simone de Beauvoir, na obra denominada O Segundo Sexo. Seu pensamento foi um ponto de fuga que lhe permitiu chegar onde não se havia chegado. E ainda mesmo se passando 70 anos depois de sua publicação é um clássico absoluto, uma obra brilhantemente articulada através da qual continuamos contemplando e interpretando o mundo.

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Esse livro possui 2 volumes densos, que traz variáveis reflexões, extremamente importantes principalmente em relação ao feminismo até o dia de hoje.

O primeiro volume chama-se Fatos e Mitos, e ela começa trazendo a epigrafe de dois pensadores. Um deles é o Filósofo grego Aristóteles, que diz “Há um principio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e há um principio mau que criou o caos, as trevas e a mulher.” O outro é o pensador francês renascentista chamado François Poullain de la Barre, que diz “Tudo o que os homens escreveram até hoje sobre as mulheres deve ser suspeito, pois eles são, a um só tempo, juiz e parte.” Dai em diante, Simone intenciona dentro desse 1°vol. desmitificar os fatos ou pressupostos que estão relacionados a vivência da mulher, abordando vários aspectos e conhecimentos, que tentam trazer uma certa essência para as mulheres. Mas nenhuma delas conseguem justificar o porque as mulheres se encontram numa condição de subordinação em relação aos homens.

Já no segundo volume denominado A Experiência Vivida, Simone demonstra como as mulheres constrói sua própria existência, não somente a partir delas, mas também a partir do que lhe foi dado. Mostrando experiências de vidas de outras mulheres, fazendo nos entender a dimensão do que seria a mulher hoje e porque essa mulher foi construída dessa forma e não de outra. Introduz essa segunda parte com uma frase que ficou famosa e polêmica, “Não se nasce mulher, torna-se.” Que quer dizer e se relaciona com a frase de Sartre, ” A existência precede a essência”. Ou seja, não existe uma essência feminina, a pessoa não nasce mulher, vai se tornando por meio de práticas durante a sua existência.

Fica evidente em sua obra que é necessário transformar a estrutura, essa que seria a condição econômica modificada, que é onde as mulheres adentraram no mundo do trabalho, não foi suficiente porque o mundo ainda é masculino, ainda é androcêntrico. Logo, a única solução seria trazer uma perspectiva feminina, ou seja mulher deixar de ser o outro. Homem um sujeito e mulher um sujeito.

Ela termina esta obra com uma poesia muito bonita de um poeta francês chamado Arthur Rimbaud. Que diz:

” Os poetas serão!
Quando for abolida a servidão infinita da mulher,
Quando ela viver para ela e por ela,
Tendo-a libertado o homem – até agora abominável –
Ela será também poeta!
A mulher encontrará o desconhecido!
Divergirão dos nossos seus mundos de ideias?
Ela descobrirá coisas estranhas, insondáveis,
Repugnantes, deliciosas, nós as aceitaremos, nós as
Compreenderemos”.

Ouça no Spotify: https://open.spotify.com/episode/32jN4lAwHAWfWpX1Uyfo2E?si=2R9kiOQMTRiutN-87XeLLg

Acesse também: https://clickmuseus.com.br/baixe-agora-a-12a-edicao-da-revista-memoria-lgbt-feminismo-em-pdf/

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