O Ser [tão] de João Guimarães Rosa

“Nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim sim, de muita importância…”

Guimarães Rosa com seus pais D. Francisca Guimarães Rosa e Sr. Florduardo Pinto Rosa – Foto: Acervo MCGR

Neste dia em que se completa 113 anos de nascimento do menino Joãzito, vamos contar um pouco de sua importante trajetória. João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, na pequena cidade de Cordisburgo, interior de Minas Gerais. Primogênito dos sete filhos de Francisca Guimarães Rosa (Dona Chiquitinha) e Florduardo Pinto Rosa (Seu Fulô), o menino Joãozito cresceu ouvindo histórias contadas pelos frequentadores da “Venda de Seu Fulô”, pequeno comércio mantido por seu pai na parte da frente da casa da família.

Menino Joãozito com 11 anos – Foto: Acervo MCGR

Menino estudioso, apaixonado por Geografia e História Natural, estava com 9 anos incompletos quando foi morar com os avós em Belo Horizonte, cidade onde, em 1917, completou o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena. Em seguida, transferiu-se para São João del-Rei (MG), para cursar o secundário no Colégio Santo Antônio, em regime de internato. Não se adaptando ao local, retornou à Capital mineira e matriculou-se no Colégio Arnaldo, onde permaneceu até a conclusão do curso, dedicando-se com gosto especial ao estudo do idioma alemão e ao de outras línguas estrangeiras. Em 1925, com apenas 16 anos, foi admitido na Faculdade de Medicina da U.M.G.

Paralelamente, em 1929, João Guimarães Rosa estreou na literatura, concorrendo com quatro contos a concurso promovido pela revista O Cruzeiro: Caçador de Camurças, Chronos Kai Anagke, O mistério de Highmore Hall e Makiné.

Em 27 de junho de 1930, ao completar 22 anos, Guimarães Rosa casou-se com Lígia Cabral Penna, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda em 1930 formou-se em Medicina, tendo sido o orador da turma, escolhido por aclamação pelos 35 colegas. Depois de formado, foi exercer a profissão em Itaguara, no interior de Minas, onde permaneceu por cerca de dois anos. Nesta cidade, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, atuou como médico voluntário da Força Pública. Em seguida, entrou por concurso para o quadro da Força Pública, transferindo-se em 1933 para Barbacena, para ocupar o posto de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Na ocasião, como suas atividades no Quartel se restringiam praticamente à revistas médicas de rotina, pôde se dedicar com mais afinco ao estudo de idiomas estrangeiros.

João Guimarães Rosa – Foto: Acervo do MCGR

Foi também em Barbacena que um amigo, impressionado com a erudição de Guimarães Rosa, o convenceu a se candidatar a uma vaga no Itamarati. Seguindo para o Rio de Janeiro, prestou concurso e foi aprovado para o Ministério do Exterior, obtendo o segundo lugar. Em 1938 foi nomeado Cônsul Adjunto da cidade de Hamburgo, partindo então para a Alemanha. Na Europa que conheceu Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que se tornaria a sua segunda esposa. Durante a 2ª Guerra Mundial, na condição de diplomata, Guimarães Rosa e sua esposa Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa protegeu e favoreceu a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo, concedendo vistos para o Brasil, então proibidos pelo governo brasileiro e pelas autoridades nazistas. Para isso, contou com a participação decisiva de D. Aracy. Responsável pela preparação da papelada para a concessão de vistos, ela conseguiu um meio de emitir documentos sem a marca da estrela de Davi e passaportes sem identificar a religião dos portadores.

Em 1942, após o rompimento diplomático do Brasil com a Alemanha, Guimarães Rosa e outros compatriotas ficaram retidos em Baden-Baden, sendo libertados quatro meses depois, em troca de diplomatas alemães.

De volta ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, o diplomata seguiu para Bogotá, onde tomou posse como Secretário de Embaixada, cargo que ocupou até 1944. Regressou ao Brasil em dezembro de 1945, mas logo retornaria à Europa, para assumir o posto de chefe de gabinete do Ministro João Neves de Fontoura, integrando a delegação da Conferência de Paz. De 1948 a 1950 serviu à Embaixada em Paris, voltando novamente ao Brasil em 1951, como chefe de gabinete de João Neves de Fontoura.

Em 1952, Guimarães Rosa participou de uma viagem de dez dias pelo sertão de Minas Gerais, juntamente com um grupo de vaqueiros, com o objetivo de levar uma boiada de uma fazenda a outra, num percurso de quarenta léguas. Na travessia, fez anotações minuciosas sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja – usos, costumes, crenças, linguagem, supertições, versos, canções, casos, histórias, etc – que seriam reinventadas e reveladas em sua literatura, em especial na sua obra-prima Grande Sertão: veredas

João Guimarães Rosa durante a Viagem de 1952 entre Andrequicé/Três Marias a Araçaí no interior de Minas Gerais. Foto: Eugênio Silva/Acervo MCGR

Em 1953, tornou-se Chefe da Divisão de Orçamento e em 1958 foi promovido a Ministro de Primeira Classe, cargo correspondente ao de embaixador. Assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras em janeiro de 1962, exercendo suas atribuições com notório desempenho.

Desde 1958 Guimarães Rosa já apresentava problemas de saúde, ligados a distúrbios cardiovasculares, que particularmente o perturbavam. Exemplo disso foi a atitude que tomou diante de sua eleição à Academia Brasileira de Letras em agosto de 1963. Eleito por unanimidade, decidiu adiar a cerimônia de posse enquanto pôde, afirmando que temia morrer de emoção, em decorrência da homenagem. Finalmente, após mais de quatro anos, em 16 de novembro de 1967 ele assumiu a cadeira na Academia, e, como pressentiu, veio a falecer apenas três dias depois, em 19 de novembro, na cidade do Rio de Janeiro, no ápice de sua carreira literária.

João Guimarães Rosa – Foto: Acervo do MCGR

O escritor e sua obra A obra de João Guimarães Rosa é marcada pela linguagem popular, trazendo fortes traços da narrativa falada. Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas e neologismos são algumas das características fundamentais de sua literatura, conciliando o homem de cultura excepcional, o pesquisador obstinado e o escritor de rara criatividade.

Assim, o ineditismo de suas construções sintáticas, a mescla vocabular, a revitalização de palavras gastas, o aproveitamento de virtualidades fônicas, tanto do português quanto de outros idiomas, revelam um autor de depurada originalidade, empenhado em surpreender e empregar, em sua textura poética, formações linguísticas singulares emergidas de várias temporalidades e de diferentes usos, atingindo, dessa forma, um ideal de inteligibilidade universal.

João Guimarães Rosa ao lado do escritor João Condé com a primeira edição do livro Sagarana/1946 – Foto: Acervo MCGR

Produção Literária

1936 – Magma (poemas) – Publicação Póstuma em 1997

1946 – Sagarana  (contos)

1956 – Corpo de Baile (atualmente publicado em três partes:  Manuelzão e Miguilim, Noites do Sertão e  No Urubuquaquá do Pinhém)

1956 – Grande Sertão: Veredas (romance)

1962 – Primeiras Estórias (contos)

1967 – Tutaméia – Terceiras Estórias (contos)

1969 – Estas Estórias (contos) – Publicação Póstuma

1970 – Ave, Palavra (contos) – Publicação Póstuma

INFORMAÇOES:

Horário de Funcionamento:

De terça-feira a domingo das 09h30min às 17h

Museu Fechado:

No último domingo de cada mês, natal, réveillon e carnaval

CONTATOS:

Museu Casa Guimarães Rosa – Avenida Padre João, 744, Cordisburgo/MG – CEP: 35780-000

Tel: (31) 3058-1587 / E-mail: museuguimaraesrosa@secult.mg.gov.br

Instagram: instagram.com/museuguimaraesrosa

Facebook: facebook.com/museucasaguimaraesrosa.mg

Youtube: youtube.com/c/MuseuCasaGuimarãesRosa

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