Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) possui um acervo mais de 5 mil obras produzidas por artistas modernos e contemporâneos, principalmente brasileiros. Dentre as diversas linguagens da arte, o acervo possui 1195 fotografias, entre as quais 32 fotos foram feitas por 7 artistas, retratando 33 outros artistas.
Na infinidade de imagens criadas pelo homem, o retrato sempre teve lugar de destaque, pois, no ato de representar o outro, o sujeito encontra reflexos do seu próprio ser e pensar. A representação da figura humana, no universo das imagens, sempre correspondeu a um firme desejo de perpetuar determinada identidade. O surgimento da fotografia no séc. XIX, além de revolucionar o mundo das artes, sugere novas formas de retratar e de relações com o retrato, tornando-se um dos gêneros de fotografia mais populares. O ser humano, em busca de novos modos de memorizar o mundo e a si mesmo, ampliou suas fontes de história.
O retrato possui uma propriedade e pode revelar tanto sobre o modelo como sobre o artista que o concebeu, marcado por uma subjetividade, uma vez que há escolha do ângulo, luz, distância focal, cenário e momento. Detentor do meio, o fotógrafo é aquele que possui o conhecimento técnico e o equipamento para o registro. Quando o fotografado é um outro artista, há um vínculo entre quem captura a imagem, o retrato e o retratado.
Olney Kruse
O artista Olney Kruse (1939-2006), natural de São Paulo, foi um fotógrafo autodidata, inspirado pela obra do artista pop norte-americano Robert Rauschemberg. Graduado em Jornalismo, trabalhou em diversos órgãos de imprensa como fotógrafo e crítico de arte, além de ter realizado várias exposições. Na coleção do MAM, estão presentes os retratos de artistas como Sophia Tassinari, Cláudia Andujar, Linda Kohen, Gregório, Ermelindo Nardin, Miro, Madalena Schwartz, Otavio Araujo Amarilys (Lu) Rodrigues, Tomie Ohtake e Cláudio Tozzi.
Juan Esteves
O artista nasceu em Santos, São Paulo, em 1957. Estudou Direito na Pontifícia Universidade Católica de Santos (PUC-SP), abandonando o curso para se dedicar a fotojornalismo a partir do início da década de 1980. Trabalhou para diversas agências, órgãos de imprensa e editoras, destacando-se como excelente retratista e realizando uma exposição de 55 retratos no Museu da Imagem e Som de São Paulo (MIS-SP). Para Juan Esteves, é interessante enxergar em seus retratos não a face midiática, a pose armada e o efeito produzido, mas sim o ser quase desconhecido que se esconde por trás do artista. No acervo do MAM, há retratos realizados por ele de Sebastião Salgado, David Drew Zingg, Aldemir Martins, Mestre Didi, Maria Bonomi, Marcelo Grassmann, Franz Weissmann, Francisco Brennand, Caito e Marcos Concílio.
Carlos Freire
O carioca Carlos Freire (1945-) produziu cerca de 700 retratos de escritores e artistas, vivendo e trabalhando desde 1968 em Paris. A maioria dos seus trabalhos relaciona os artistas aos seus ambientes de criação, como seus escritórios e ateliês. Realizou expedições para Itália, Marrocos, Japão, Índia e Brasil para se dedicar a documentar os hábitos sociais das cidades e regiões. Em 1996, exibiu a série Regards de Francis Bacon, em Paris, com fotos realizadas no ateliê do pintor anglo-irlandês, realizada em 1976, e nunca antes exibida. O acervo do MAM possui uma dessas imagens do artista.
Otto Stupakoff
Otto Stupakoff (1935-2009), paulistano pioneiro da fotografia de moda no Brasil, estudou fotografia no Art Center College of Design, em Los Angeles (Estados Unidos). O artista viveu em diversas cidades e trabalhou em estúdios, agências de publicidade e revistas, além de publicar três livros sobre fotografia. Suas fotos também ganharam destaque no campo da música através dos retratos de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. No MAM, há fotografias suas de Heitor dos Prazeres e de Eduardo Paolozzi.
Flávio Colker
O carioca Flávio Colker (1956-), além de fotógrafo, é professor universitário e diretor de cinema. Participou de diversas exposições e ocupou a cadeira de fotografia no Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). O artista afirma que busca os limites da fotografia, procurando demonstrar sua natureza fantasmagórica e propondo sempre um retorno a vida e a matéria. No MAM, há fotos suas dos artistas Jac Leirner e Daniel Senise.
Pablo Di Giulio
Pablo Di Giulio (1957-), natural de Buenos Aires, abriu seu próprio estúdio em São Paulo, começou a trabalhar como fotógrafo profissional e colaborou com as revistas Vogue, Galeria, Travel In, Marie Claire e Gula. Realizou exposições na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e em galerias de Arte. O acervo do museu possui retratos de Alfredo Volpi, Cildo Meireles, Sérgio Romagnolo, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Iran do Espírito Santo.
Fernando Lemos
Fernando Lemos (1926-), nascido em Lisboa e residente no Brasil, registrou imagens de intelectuais e artistas ligados ao movimento surrealista e também momentos cotidianos, transformados por efeitos de luz. Em Paris, conviveu com muitos artistas e chegou a conhecer Man Ray. Em uma entrevista, o artista relata que durante um momento fotográfico “uma pose está sempre à espera de outra; o gesto que faço agora está à espera de outro. Não há gestos gratuitos.” No MAM, há fotos suas dos artistas Arpad Szenes e Vieira da Silva.
Todo esse conjunto de fotografias da coleção do MAM revela obras que, mais do que retratos e cenas documentais, representam o encontro de um artista para retratar a imagem, a personalidade e o trabalho de outro artista. Assim, as fotos concedem um olhar metalinguístico, evidenciando a memória de cada fotografia como um caminho de conhecer profundamente um universo criativo e íntimo: o artista pelo artista.
Para conhecer o acervo completo do MAM, acesse o link: https://mam.org.br/colecao/
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