A Cidade Murada de Kowloon, ou Cidade das Sombras, teve origem em 1800. Ela funcionava como refúgio pesqueiro pertencente à China. No entanto, com o início do comércio de ópio pelos britânicos, a região sofreu grandes transformações. O consumo da droga foi tão difundido que, em 1839, a China tinha cerca de 2 milhões de dependentes na população. Como forma de frear esse comércio, teve início a Primeira Guerra do Ópio contra os ingleses – que acabou tornando-se apenas um banho de sangue generalizado e transferindo Hong Kong para o domínio londrino.
Apesar disso, a China conseguiu manter para si um pequeno forte na parte continental da ilha. No entanto, para evitar mais influências, construiu uma muralha no seu entorno. Ela foi palco da Segunda Guerra do Ópio, dessa vez contraum movimento messiânico radical cristão, que também teve drásticas consequências para a China totalizando 20 milhões de mortos.
A cidade murada de kowloon só passou a ser posse dos britânicos no século seguinte, durante uma nova guerra civil chinesa. Na ocasião, tornou-se uma espécie de ponto turístico para os estrangeiros, “a cidade chinesa”, mas teve pouquiíssimo ou nenhum investimento britânico e entrou em decadência.
A Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial barraram a demolição da cidade. Assim, os japoneses atacaram Hong Kong e destruíram a muralha para usar as pedras em seus aeroportos. Kowloon, no entanto, seguiu recebendo refugiados chineses, em sua maioria comunistas e nacionalistas. O espaço que abrigava 700 pessoas passou a contar com mais de 2 mil. Na década de 60, já eram 30 mil pessoas ocupando 300 edifícios em uma área de 28 mil m² – o equivalente a um quarteirão.
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A falta de luminosidade e a intensa poluição eram quase residentes. A única área aberta de Kowloon era um pequeno pátio no centro. As moradias se amontoavam, aglomeravam e cresciam umas por cima das outras sem absolutamente nenhum controle. Muitas tinham o tamanho de um pequeno quarto e abrigavam famílias inteiras. A água potável estava presente apenas sete torneiras espalhadas. Kowloon funcionava há quase 40 anos de maneira própria, sem auxílio do governo e quase sem interação com o exterior. Esta, aliás, se baseava no preconceito e na falta de crença de que as pessoas que ali viviam pudessem prosperar de alguma maneira.
Apesar de ter ficado conhecida pela criminalidade e pelo intenso consumo de drogas, grande parte da população era de trabalhadores. Sobre isso, Chan Pui Yin, proprietário de uma loja na “Cidade das Sombras” afirmou em entrevista: “Não existiam assaltos — apesar de os criminosos usarem a cidade para se esconderem, todos se conheciam, então ninguém nunca tentava se machucar. Era um pouco como a vida nos vilarejos da China antigamente”. Em Kowloon, atuavam por volta de 90 dentistas e 30 médicos que se formaram na China e, portanto, não podiam trabalha em Hong Kong.
De favela vertical a parque
Em 1984, o governo britânico decidiu demolir a cidade. Mas a demolição só teve início em 1993. As construção, então, deram lugar ao Parque da Cidade Murada de Kowloon. O jardim inspirado na dinastia Qing era apoiado por ruínas do antigo forte que passaram por restaurações. Atualmente, a região ainda carrega muitas memórias da sua trajetória, como uma lenda urbana muito complexa e real.
Aliás, o caos da Cidade Murada de Kowloon serviu de pano de fundo e inspiração para muitas produções audiovisuais. É o caso, por exemplo, da animação Street Fighter, do jogo Call of Duty e do filme Batman Begins.
Em 1993, os fotógrafos Ian Lambot e Greg Girard visitaram a cidade e fizeram registros da Cidade das Sombras. As fotografias deram origem ao livro “City of Darkness: Life in Kowloon Walled City”, que foi republicado em 2014 com novos documentos.
Fonte: Architecture Review
Foto de Capa: Aventuras na historia