“Receita de ano novo”: O que Carlos Drummond de Andrade pode nos ensinar para 2021

Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira do Mato Dentro, em Minas Gerais, em outubro de 1902. Durante a infância, estudou em colégios internos e chegou a ser expulso de uma das instituições por “insubordinação mental” a um professor de português.

Na juventude, o escritor se formou em farmácia pela Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Sem interesse pela profissão, começa a dar aulas de português e geografia em Itabira. No mesmo ano, retornou a Belo Horizonte, e começou a ocupar redator-chefe do Diário de Minas, publicando suas primeiras obras em 2021. Ao longo de sua carreira, trabalhou em diversos jornais e redações, foi membro da Comissão de Eficiência do Ministério da Educação e também atuou na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN). Publicou diversos livros no Brasil e em outros países, além de receber muitos prêmios e homenagens pelo jornalismo e poesia. Em 1984, Drummond encerrou sua carreira de cronista regular após 64 anos dedicados ao jornalismo. Após 12 dias da morte de sua filha, o escritor, que já sofria de insuficiência cardíaca, faleceu.

Drummond é considerado um dos maiores escritores brasileiros e retratou poeticamente sentimentos inerentes a diversas sociedades. O escritor passou pela Crise de 1929, Segunda Guerra Mundial, Guerra fria e ditadura militar no Brasil, refletindo e discutindo sobre todos esses acontecimentos globais, o que o tornou ainda mais popular. Percorrendo diversos estilos literários, Drummond aborda em sua obra os questionamentos em torno da existência humana, do sentimento de estar no mundo, da inquietação social, filosófica e amorosa. Em uma de suas poesias, escreveu “conselhos” para um ano ser realmente novo.

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Para conhecer mais sobre o poeta, você pode acessar o link: https://www.carlosdrummond.com.br/ O site Carlos Drummond de Andrade, promovido pela Lei de Incentivo à Cultura e Ministério da Cultura, pretende democratizar o legado do escritor, compartilhando sua biografia, poesias, crônicas e histórias.

Estátua de Carlos Drummond de Andrade em Copacabana, Rio de Janeiro. Foto: Riotour
Nota de 50 cruzados, em homenagem a Drummond, que circulou pelo Brasil entre 1988 e 1990.

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