Louise Bourgeois: Entre linhas e tecidos

Louise Bourgeois, fotografada por Robert Mapplethorpe

Nascida na França em 1911, Louise Bourgeois constituiu uma carreira ao longo de quase 70 anos de atuação e seu trabalho contribuiu para a implementação do movimento feminista nas artes plásticas, por meio de processos pessoais de auto expressão, exercendo até a contemporaneidade diálogo e influência na arte contemporânea. A artista teve uma grande produção de desenhos e esculturas, desde suas primeiras pinturas criadas na década de 1940 às suas maiores esculturas da década de 1990, valendo-se do uso de diferentes materiais de forma frequente e com profundo caráter simbólico. Para compor suas obras, os objetos do seu cotidiano são instrumentalizados como metáforas, explorando temas como maternidade, emoções, relacionamento e morte.

Por estar familiarizada com os surrealistas, Bourgeois trata de temas oníricos e relativos a mente, contudo sua obra está além de uma classificação rígida, constituindo-se como uma manifestação da sua auto expressão, evidenciada ainda mais pelos seus escritos em diários. A artista costura suas primeiras relações com a arte por meio da oficina de restauração de tapeçarias dos seus pais. Na infância demarca-se o início de toda trajetória para compreender a sua vida artística, pontuada por dois fatos decisivos.

O primeiro aspecto marcante e pertinente à obra de Louise Bourgeois se dá a partir de suas brincadeiras de se esconder em tecidos, quando começa a ter interesse pela tridimensionalidade do material. Ajudando os pais e aprendendo sobre tapeçaria, ela cresceu entre os materiais têxteis. O outro aspecto pertinente é a relação com seu pai, a qual foi prejudicada por diversos acontecimentos desde o seu nascimento e principalmente depois de descoberta a traição à sua mãe, tornando-se um tema frequente tanto em sua produção artística quanto na literária.

Diante de tantos conflitos familiares e de personalidade, ela buscou a psicoterapia para uma melhor compreensão de si mesma e de sua história. Nas suas confissões em seus diários, afirmou ser ansiosa e depressiva, fatores que atribui aos conflitos com seu pai. Assim, fez 33 anos de psicanálise com Henry Lowenfeld, discípulo de Sigmund Freud, como um processo de autoconhecimento que influenciou todo o seu trabalho. No percurso de sua obra, cada material compõe uma lembrança, um aspecto simbólico e valores psicológicos atribuídos. Em todos os diversos materiais utilizados, nota-se a relação entre o processo de produção e criação.

O uso do tecido começou a ser cada vez mais presente em suas obras, seja diretamente nas linhas aplicadas, na noção de tridimensionalidade ou ainda como metáforas, característica das esculturas que envolvem sua mãe representada como aranha. Em uma entrevista, a artista explica a existência de um duplo sentido no caso das obras em que representa a aranha “A aranha é protetora, a nossa protetora contra os mosquitos. […] A outra metáfora é que a aranha representa a mãe. A minha mãe era a minha melhor amiga. Ela era inteligente, paciente, tranquilizadora, delicada, trabalhadora, indispensável e, sobretudo, ela era tecelã – como a aranha. Para mim, as aranhas não são aterradoras.”

Aranha, de Louise Bourgeois (Imagem: Edouard Fraipont)

A artista produziu uma série de seis aranhas em bronze. Uma delas já esteve exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), no Instituto Inhotim em Brumadinho, na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Com 3,5 metros de altura e pesando cerca de 700 kg, a obra é parte da coleção do Instituto Itaú Cultural.

Escritora de sua própria vida, Louise Bourgeois usou suas emoções como matéria-prima da sua obra, compartilhando o mistério, o inexplicável, as inquietações e seus segredos. Toda a sua obra, através das mais variadas temáticas, sempre retorna às origens da linha e do tecer. A costura foi como a própria trajetória da vida.

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