Companheiros felinos: Os artistas e seus gatos

               

Salvador Dali (1904-1989) em um ensaio fotográfico com gatos

Representados de diversas formas ao longo da história da arte, os gatos possuem variados simbolismos em muitas culturas, sendo ora vistos para o bem e ora para o mal. Aliada a religião e crenças, a história dos felinos e suas representações na arte é acompanhada do seu processo de domesticação. Ao longo dessa relação, a humanidade amou e perseguiu o felino, em uma trama heterogênea e simbólica.  

Dentre as diversas alusões, na filosofia budista, o gato foi censurado, junto com a serpente, por ter não ter se comovido com a morte de Buda, o que significaria que os felinos se sentem superiores e mais sábios do que os outros. Na tradição muçulmana, o gato era considerado um animal bom, exceto se fosse preto, pois isso simbolizava que ele possuía qualidades mágicas. Já na Pérsia, quando se maltratava um gato preto, corria-se o risco de estar maltratando a si mesmo. O Egito antigo venerava a deusa Bastet, geralmente representada como uma mulher com cabeça de gato ou na forma de um gato, sendo a benfeitora e protetora do homem. Em diversas obras de arte representam os felinos com uma faca em uma das patas decepando a cabeça de uma serpente, considerada inimiga. Na Grécia Antiga, os felinos também foram associados a divindades quase na mesma medida que no Egito.  Assim, o gato foi símbolo de força e agilidade a serviço do homem.

Pablo Picasso (1881-1937)/Esboços de gatos realizados pelo artista

Na Idade Média, a relação entre os gatos e as religiões pagãs se orientou para a construção de uma imagem demoníaca do animal. A Igreja Católica associou os gatos às trevas e à magia negra, devido aos seus hábitos noturnos e misteriosos, afirmando que os felinos possuíam um pacto com o demônio, principalmente os de cor preta. Por outro lado, os gatos posteriormente foram considerados valiosos, pois eram eficientes e hábeis para matar os ratos que causaram a peste bubônica na Europa do século XIV.

À medida em que a Era Moderna se aproximava, o gato foi começando a recuperar o seu antigo lugar como companheiro das pessoas. Na evolução das espécies, os gatos domésticos são considerados adaptações dos gatos selvagens e, após uma série de cruzamentos entre classes, os felinos domesticados surgiram como animais menores e que não ofereciam grande perigo aos seres humanos.  Em finais do século XIX, a criação de gatos passou a crescer, principalmente por conta das variedades com pelo comprido, e os felinos começaram a conviver cada vez mais com a sociedade. Em 1871, no Palácio de Cristal de Londres, ocorreu a primeira exposição dos animais, onde foram apresentadas várias raças, aumentando a popularidade dos gatos.

Frida Kahlo (1907-1954) com seu macaco e seu gato.

Uma vez que os gatos estavam mais presentes na sociedade, a psicologia também se debruçou para analisar os felinos. O psicanalista Sigmund Freud cita que os humanos possuem um fascínio em relação aos gatos, possivelmente porque os felinos parecem ser extremamente autossuficientes e demonstram uma autonomia em relação ao afeto, diferentemente dos humanos, que tendem a verificar constantemente se o outro legitima o seu modo de ser. Já Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, afirmou que a temática animal costuma operar como um símbolo da natureza primitiva e instintiva do homem e menciona contextos em que os animais são representações de deuses, assim como os gatos foram venerados no Egito. Em consonância com Freud, a psiquiatra Nise da Silveira reflete que “o gato é um ser essencialmente livre e essa liberdade desafia o homem”. A médica chegou a utilizar os animais como “co-terapeutas” em um hospital psiquiátrico e escreveu o livro “Gatos: A emoção de lidar”.

Henri Matisse (1869-1954)/Obra “The cat with red fish”

Se nos séculos passados o gato apareceu como um animal associado ao mal, na arte moderna ele ganhou um espaço de destaque ao lado dos artistas. Como parte de um lar, os gatos despertaram o interesse de pintores e escultores, estando presentes em pinturas famosas e também como animais domésticos. Os felinos atraíram a atenção de vários artistas, como Gustav Klimt, Frida Kahlo, Salvador Dali e Pablo Picasso. Na última década de sua vida, Henri Matisse teve um câncer e passou a maior parte do tempo na cama ou em uma cadeira de rodas, enquanto vários gatos lhe fizeram companhia. Andy Warhol, por sua vez, chegou a ter 25 gatos, e Paul Klee dividiu seu ateliê com sua gata Bimbo.

Muito embora as influências sociais e culturais imputassem novos significados aos animais, os gatos, mesmo retratados das mais variadas formas e através de diferentes símbolos, sempre estiveram presentes na história da arte e, por muitas vezes, ao lado dos artistas. Para saber mais sobre o tema, visite as exposições 10 Coolest Cats in Art History realizada pelo Google Arts and Culture e “Cats in art history” feita pelo Universal Museum of Art.

Wassily Kandinsky (1866-1944) com seu gato Vaske
Paul Klee (1879-1940)/ Obra “Cat and bird”
Gustav Klimt (1862-1918)
Suzanne Valadon (1865-1938)/Obra “Two cats”
Georgia O’Keeffe (1887-1986)
Andy Warhol (1928-1987)/Desenhos de um dos seus gatos

Read Previous

Orquestra Sinfônica Municipal apresenta Johann S. Bach

Read Next

Museu do Ipiranga promove concurso para edição de verbetes na Wikipédia

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *