Belmiro de Almeida sob efeito do sol…

Na passagem do século XIX para o XX, a Belle Époque se desenvolvia e, com ela, novos grupos sociais entravam em cena. A cidade precisava ser embelezada para que a burguesia a frequentasse, portanto os ambientes domésticos e o requinte começavam a ser representados. O Realismo, um estilo que se construiu nesse contexto, dava importância aos cotidianos e aos personagens em cenas comuns.

Nesse mesmo período, na Europa, o Impressionismo estava se expandindo. A pincelada se soltava e se tornava cada vez mais visível, a luz ganhava ênfase, as cenas banais ganhavam espaço, o gesto era evidenciado. Os artistas brasileiros que iam para o exterior tinham contato com as novas tendências artísticas, mas estas eram muito criticadas e pouco valorizadas. Apesar disso, é possível notar a influência, ainda que sutil, em obras do período.

AUTO-RETRATO aos 25 Anos de Idade. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. ISBN: 978-85-7979-060-7

Belmiro de Almeida, mineiro, nasceu em 1858, foi aluno da Academia Imperial de Belas Artes e teve sua produção artística inserida naquele contexto de transição. Considerado um artista de espírito rebelde e contestador dos velhos hábitos e do conformismo cultural, abraçou as influências do modernismo nas suas pinturas.

… efeitos do sol em Belmiro de Almeida

EFEITOS de Sol (Itália). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. ISBN: 978-85-7979-060-7

Em “Efeitos do Sol”, tela pintada em 1892, as transformações poéticas e estéticas ficam muito evidentes. A personagem está lendo um livro em meio a um turbilhão de cores colocadas na tela de modo quase pontual, uma influência do Pontilhismo, que, quando vistas à distância, se misturam e formam novas nuances. Ao mesmo tempo a ênfase na luz sobre a cena traz características do Impressionismo.

Por outro lado, a figura central não se mescla ao ambiente de luz e cor e permanece em evidência: é a colocação do indivíduo em um lugar de importância na obra. Apesar de ter dimensões pequenas, 100x65cm, apresenta um universo a ser explorado. Os detalhes da roupa da personagem que sorri sutilmente, a árvore verde ao fundo que se destaca dos tons azulados que o ambiente e as roupas ganham ganham, as sombras produzidas pelo chapéu na pele. É uma obra que questiona a forma delimitada e, ao expandir esses limites, se utiliza de pequenos elementos para compor o todo.

A pintura, atualmente, é parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ainda fechado para visitação devido à pandemia do Corona vírus. No entanto, se eu puder dar uma dica, quando tiver oportunidade, não deixe de vê-la pessoalmente, vale muitíssimo a pena, viu?

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One Comment

  • Achei muito interessante!

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