A quem serve a arte? Beco do Batman em memória de NegoVila

Na manhã do dia 30/11, o Beco do Batman – reduto boêmio e artístico da Vila Madalena em São Paulo – amanheceu com seus tradicionais grafittis cobertos.

As paredes outrora coloridas e vivazes, cenários comuns de fotos para o instagram, mas também de divulgação dos trabalhos de artistas, agora carregam outro tipo de mensagem, tão potente quanto as anteriores: protestos contra a morte de NegoVila, artista plástico de 40 anos.

Wellington Copido Benfati, o NegoVila, foi morto em confronto com um policial, após uma briga no próprio bairro da Vila Madalena, em mais um dos sistemáticos assassinatos de homens e mulheres pretas por forças militares de São Paulo.

Agora, artistas e comunidade do bairro se uniram para protestar a violenta morte de um dos seus, cobrindo todas as paredes de preto e deixando mensagens de apoio, luto, protesto e resistência.

Fotos: reprodução G1 e UOL Notícias

Há um choque da população que frequentava o Beco do Batman com a nova cara que o local ganhou após a morte de NegoVila, e alguns consideram que a melhor forma de prestar homenagem seria deixando seu grafitti a mostra.

Mas, além de darmos nosso devido respeito ao artista, este texto é uma provocação para refletirmos sobre a função da arte na sociedade em que vivemos. A quem esta arte pertence? À quais necessidades ela deve responder? A quem ela diz respeito?

Em quê uma parede colorida, viva, coletiva, faria jus a uma violência sistemática, a um medo cotidiano, a um apagamento que já existe há tanto tempo no Brasil?

A pura contemplação, ou, na nossa época líquida, o consumo de trabalhos murais como o grafitti não encerram sua mensagem. A arte tem o poder de propagar questões. Tem o poder de transformação. Afeta e é afetada o tempo todo pelo que nós, como sociedade, queremos e fazemos.

Mensagens como esta se fazem necessária para que o protesto seja eloquente, para que as dores sejam expostas, para que a sociedade geral possa visualizar – e, esperadamente, se inteirar e juntar – a luta dos artistas do grafitti e, principalmente, das pessoas pretas.

Fotos: reprodução G1 e UOL Notícias

Sobre a autora:
Nina Ingrid C. Paschoal é mestra, licenciada e bacharela em História. Concentra suas pesquisas nas áreas em História contemporânea, principalmente enfocando História da arte, orientalismo e história da ciência. Paralelamente, é praticante e professora de danças árabes, e compõe o Coletivo Hunna – historiadoras que dançam.
Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/8292711458262401
Contato: nina_paschoal@hotmail.com / @nina.paschoal

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Click Museus.

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