Livro da artista – Diafaneidades
Neste projeto me dediquei completamente as transparências. Tais translucides adquiridasdurante este período tão obscuro. Tal nitidez da vida que não tinha percebido ainda.
Porém a vida está em um desenrolar nada simétrico. Não podemos virar a página da vida como fazemos geralmente, por este motivo o livro se desdobra em sanfona. Para mim esteperíodo está se arrastando continuamente e sendo suturado por filetes vermelhos em formato de cruz. Manchas mosqueadas estão surgindo em nossa caminhada, tão nítidas e tão intensas como minhas manchas de café sobre o papel.
Processo criativo:
Meu processo de criação não é nada tranquilo. Passo noites em claro criando e
imaginando como devo proceder, de que maneira, qual material usar, como transpor para o suporte minhas ideias e sentimentos.
Quando me sinto preparada começo a criação. É um trabalho que pode ter certeza, árduo, mas muito prazeroso. Faço por etapas, sempre agi assim, sou extremamente meticulosa. Primeiro preparo o material a ser utilizado, no caso deste projeto em especial, usei café e pó de café, primeiro coloquei o pó de café usado e ainda molhado em cima do suporte escolhido (Canson), esperei que secasse completamente, mexendo constantemente para que as manchas iniciais ficassem como eu desejava, isso perdurou por aproximadamente 4 dias.
Logo em seguida da secagem, o pó foi descartado e comecei a fazer as manchas mais sutis com o café passado. Novamente esperei secar. Com o resultado inicial das manchas em tons de marrom, comecei a trabalhar com as manchas aquareladas com tinta acrílica. Esse processo de aquarela perdurou por aproximadamente 2 semanas, pintando, esperando secar, e acrescentando camadas quando necessário. Depois de completamente seco e finalizada a parte da composição no suporte, veio a parte da montagem do livro. Optei por costurar as páginas de maneira que ficassem ligadas por uma costura forte e que fizesse parte da leitura da obra. Resultando em um trabalho dos que mais gosto e senti muito prazer em fazer.
Alguns Pensamentos:
Para mim pessoalmente, minhas obras são como um filho, passa por todas as etapas de uma concepção, o namoro, a construção do ser e por fim o parto, o momento mais
esperado. Porem sentindo e vivendo intensamente cada fase da incubação.
A ideia é escapar desses dias tão intensos, escapar das incertezas, na nossa realidade atual, esse é o papel da arte. Ela está em minha vida para possibilitar trazer à tona, mesmo que temporariamente, um alivio do caos. Uma outra realidade possível. Um espaço, que mesmo que fictício, possa existir alivio.
Mini Bio:
Formada pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná EMBAP, em Superior de Gravura, 1992/1995. Pós-graduada em História da Arte pela mesma instituição, 2002. Com monografia editada no I Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Trabalhei até o começo da pandemia em parceria com Fundação Cultural de Curitiba. 34 exposições coletivas nos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro e Argentina. 04 exposições individuais e 11 Salões de arte.