“Aquele homem ali diz que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e ser carregadas para atravessar valas, e ter os melhores lugares onde quer que estejam. Ninguém me ajuda a conseguir melhor lugar algum. E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço. Eu arei a terra, eu plantei e eu recolhi a colheita em celeiros. E nenhum homem poderia estar à minha frente. Eu não sou uma mulher? Eu podia trabalhar tanto quanto, e comer tanto quanto qualquer homem” (BRAH; PHOENIX Apud TRUTH, 2017, p.665).
Iniciamos esse texto apresentando parte de um discurso proferido por Sojourner Truth em 1851, durante uma convenção em Akron, Ohio, Estados Unidos, pelos direitos das mulheres. Sojourner que significa “peregrina” escolheu esse nome ao invés do seu nome original Isabella, mulher escravizada, tornou-se abolicionista e ativista pelos direitos das mulheres, foi capaz de responder aos agitadores da convenção que afirmavam ser uma besteira o sufrágio feminino e não fazia sentido uma mulher querer votar se não podia saltar sobre poças de lamas e subir sozinhas em carruagens.
Partimos de um acontecimento histórico, ocorrido no século XIX, por ser um fato de grande relevância para a história de lutas dos grupos feministas, e para demonstrar que mesmo com a passagem de vários anos pensamentos baseados na supremacia masculina ainda prevalecem, e principalmente ressaltar, que há no mundo, mulheres capazes de repudiar gestos de silenciamento.
O discurso proferido pode ser associado às características das mulheres que frequentam a festa do vaqueiro Raimundo Jacó na zona rural de Serrita/PE, considerando que algumas delas cotidianamente lidam com trabalhos no campo em diferentes esferas. Sejam cultivando plantações, cuidando do gado ou praticando a vaquejada. São trabalhos que requerem um grande esforço físico, além de serem desenvolvidos em um espaço aberto, rompendo com a velha ideia de que a mulher é frágil e útil somente ao serviço doméstico e restrita ao espaço privado.
