e Cultura na pandemia – parte 1
Todos sabemos que o contexto da pandemia de COVID-19 tem afetado nossas vidas para muito além da questão sanitária. Os campos das Artes e da Cultura foram dos primeiros a ter atividades interrompidas e, provavelmente, serão dos últimos a retornar à normalidade – se é que ela será a possível ou a mesma. Não só para os espectadores/consumidores destes ramos, mas principalmente para os trabalhadores, os efeitos serão duradouros.
Buscando dimensionar este impacto para além do senso comum, depreendi uma pequena pesquisa que tratasse dos impactos da pandemia para o trabalho em Arte e Cultura e, também, da lei de incentivo que foi estabelecida em junho de 2020 para auxiliar os trabalhadores afetados – a lei Aldir Blanc, nº 14.017, de 29 de junho de 2020.
Os resultados desta pesquisa, feita com exclusividade para a coluna do Click Museus, serão divulgados em duas partes. A primeira parte da pesquisa, que aqui está, busca entender o impacto da pandemia de COVID-19 na vida pessoal e profissional de trabalhadores e trabalhadoras das áreas de arte e cultura.
A nossa amostragem contou com 40 pessoas, sendo que 27 se enquadraram no perfil necessário – ou seja, pessoas que foram contempladas com o auxílio financeiro proporcionado pela Lei.
Apesar de ser uma questão fechada, os termos usados podem ter empregos diferentes de sentido, e não procuramos medir de forma objetiva o que cada profissional entende como o afetamento causado pela pandemia. O impacto era calculado em escala gradativa, sendo 1-nada e 5-totalmente.
Diante das outras questões do formulário, é possível atribuir tanto a perda financeira quanto aos suportes e formatos de realização de seus trabalhos. Quase 60% das respostas confirmam a suposição de que a pandemia afetou totalmente o trabalho dos profissionais da Arte e Cultura.
Nesta pergunta, supõe-se que estes trabalhadores tivessem certa frequência de fluxo de trabalho, sendo agendados ou previstos. Vemos que apenas um deles pôde manter a totalidade dos trabalhos, mas entendemos que mais de 65% teve grande perda de eventos e, consequentemente, de renda – dado que irá se confirmar com outra pergunta da mesma pesquisa. Este dado também se mostra importante para entendermos a proposição das atividades online no contexto da pandemia, forma que muitos profissionais encontraram para continuar trabalhando, ainda que com adaptações necessárias.
Aqui procuramos calcular o impacto – anteriormente citado de forma mais subjetiva – de modo específico, questionando sobre alterações na renda dos respondentes. Dos 27, apenas 1 não sentiu impacto no orçamento, e mais de 85% teve mais da metade de sua renda comprometida com o contexto da pandemia de Covid-19. 5 dos 27 (quase 20%) respondentes teve perda completa de suas fontes financeiras – o que reflete inclusive outros dados recentes sobre o contexto da pandemia, como o aumento do desemprego, da insegurança alimentar e da taxa de miséria e fome no Brasil.
Ainda no intuito de dimensionar o impacto da pandemia de Covid-19 no trabalho de profissionais voltados à arte e cultura, e entender por que meios cada respondente entende que ele tenha ocorrido, disponibilizamos uma pergunta aberta que podia ser respondida com texto: “Como você descreveria o impacto da pandemia nas suas atividades profissionais em arte e cultura?” Abaixo, algumas respostas foram elencadas:
Outros três respondentes mencionaram grande perda de alunos para suas atividades de educação em Arte e Cultura. Quatro mencionaram que as agendas de trabalho foram totalmente ou majoritariamente perdidas. Apenas uma das respostas não elenca efeitos negativos, enquanto as outras 26 caracterizam o contexto como como “desastroso”, “baque”, “devastador”, “desgastante”, “inesperado” e outros. Dois respondentes falam em incerteza sobre continuar exercendo sua função, uma vez que o impacto foi enorme para eles.
Dado que profissionais de diversas áreas adotaram a prática do teletrabalho ou home office como forma de assegurar maior distanciamento social, vemos que os
trabalhadores da Arte e Cultura também seguiram esta tendência. Como forma de complementar esta pergunta, foi questionado de forma aberta, para ser respondido com texto, “Que outras formas de trabalhar com arte e cultura você exerce(u) durante a pandemia?”. A maioria das demais respostas menciona o fato de ter adaptado formato de aulas – de dança, yoga, teatro e música – para o formato online.
Ao final da primeira etapa dessa pesquisa, havia um espaço livre para que os respondentes comentassem algo que poderia não ter sido contemplado nas questões anteriores. Deixo estas respostas como uma reflexão para os tempos em que vivemos hoje, ainda sem data para finalizar, com um misto de dor engasgada e esperança em dias melhores e governos melhores.
Crédito da foto de capa: Prefeitura de Pindorama