Quando a música toca o que as palavras não alcançam

Por Fredi Jon

Era pra ser apenas mais uma festa de família, sorrisos, comida boa, reencontros. Mas naquela noite, entre risos soltos e bandeirinhas balançando ao vento, algo maior aconteceu. Fomos chamados para uma serenata. Mas não por um adulto. Quem nos chamou foi uma menina.

Cinthia, pequena no tamanho, mas imensa no sentir, foi quem sonhou esse momento. Ela queria fazer uma surpresa para seus pais. E foi além: envolveu os primos, os coleguinhas da rua, as crianças da festa. Juntas, nos receberam com olhos brilhando e palmas que sabiam exatamente onde bater, mesmo sem partitura. Havia verdade ali. Havia uma vontade sincera de emocionar.

Com Fredi Jon ao violão, a cantora ao lado e uma plateia infantil com coração escancarado, começamos a tocar. E de repente, o que era brincadeira virou gesto. O que era música virou história.

A cada acorde, víamos nos rostos dos adultos um misto de espanto e nostalgia. Como se lembrassem, de repente, de algo que tinham esquecido de sentir: a beleza do gesto gratuito, da homenagem inesperada, do amor dito em forma de canção.

Mas nada se comparou ao momento em que Cinthia, com um papelzinho amassado nas mãos, foi até os pais, emocionada, e disse:

-Eu quis dar essa serenata porque eu amo vocês. Porque vocês fazem tudo por mim, e eu queria fazer alguma coisa por vocês também. E porque a música… a música me faz sentir coisas boas que eu nem sei dizer com palavras.

A mãe chorava. O pai tentava sorrir com os olhos marejados. E ali, naquele instante breve, se revelou uma verdade imensa: as crianças estão vendo tudo. Elas notam quando o carinho vira rotina. Sentem falta de gestos que toquem a alma. E quando têm espaço, elas nos mostram o que esquecemos.

Aquela serenata não era sobre cantar músicas. Era sobre acordar sentimentos.

Porque o mundo anda apressado. As relações, frágeis. Os afetos, muitas vezes silenciosos demais. Mas ali, naquela noite simples, uma criança lembrou a todos que amor não precisa ser gritado,  basta ser cantado com o coração.

E foi assim que entendemos, mais uma vez, por que seguimos fazendo serenatas.

Não é só pelo passado. É pelo futuro também.

Pelas gerações que vêm aí e ainda sabem: música é ponte, é afeto, é memória viva.

E às vezes, é uma criança quem nos lembra disso.

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