O Museu do Seridó na 19ª Semana de Museus: sobre resistência e as novas identidades no amanhã

Para significativa parte do público não especializado, há uma profunda oposição entre museus e futuro. Museu seria, por excelência, o local do passado. Essa atmosfera do museu, por sua origem enquanto gabinete de curiosidades e, pouco depois, como memória e defesa dos estados nacionais, não é por acaso. O museu é para muita gente um lugar estático, uma fotografia cujo charme é seu indiferente amarelado.

Essa aparente contradição certamente é reforçada em museus com temáticas regionais dos sertões, como é o caso do Museu do Seridó. O sertão tem uma imagem de seca, de lugar que remete a um tempo que parece não passar. O vaqueiro, o cacto, a paisagem árida e as expressões enrugadas de homens com chapéus de couro e mulheres com baldes de água criam um imaginário de sertão que parece parado no tempo e com uma identidade homogênea.

É com o desafio de pensar outras identidades seridoenses, ancorado em uma museologia inovadora, social e imaginativa, que o Museu do Seridó entra na 19º Semana Nacional de Museus. A proposta do IBRAM este ano trouxe, a partir do tema “O futuro dos Museus: recuperar e reimaginar”, novo ânimo para a equipe pensar em si e em sua comunidade. Nosso Museu procura refletir criticamente sobre a cultura e sociedade seridoenses, repensando essas identidades e abrindo (e se abrindo a) novas perspectivas. Temos nos esforçado para realizar isso com a comunidade ao seu redor, embora saibamos que escrever e palestrar sobre esse ponto seja mais fácil que fazê-lo. Certamente não estamos sozinhos nessa empreitada: o repto que o mundo contemporâneo faz aos museus vem sendo enfrentado faz décadas, uma história de êxitos e fracassos. E, como toda história, segue em andamento.

A programação nesta Semana Nacional de Museus está enxuta, mas pensada em agregar os pontos de memória locais e trocar experiências para que todas as instituições museais possam recuperar a importância de suas existências em nossa sociedade. Contaremos com um diálogo propositivo de três mesas virtuais e três oficinas que visam, justamente, estimular a comunicação, a arte e a educação como vetores da mobilização da comunidade para com os museus.

O Museu do Seridó tem se conectado cada vez mais ao público. Usamos as redes sociais para fomentar nossa interação, sempre com a consciência que tais mídias são meios, não fins em si mesmo. Na Semana de Museus vamos compartilhar essa experiência com a oficina Museu em renovação: como trabalhar com as mídias digitais. A outra oficina tem relação com ela, pois muito do que é exposto no mundo virtual passa antes pelo registro fotográfico, daí a oficina Rexistência: registros fotográficos digitais do cotidiano através de celulares e smartphones. A terceira oficina, Dar um play na história: jogos didáticos e interações com crianças, tem por objetivo pensar em adaptações de materiais caseiros ou e jogos educativos para a educação museal. Sobre as mesas, cada uma contará com uma temática que dialoga com a essência do Museu do Seridó: o seu passado e memória, a sua pertinência como ponto de cultura para o turismo e a necessidade de projetar o seu próprio sonho-futuro, que é a sua reforma e (re)abertura física.

Continuamos construindo nosso futuro agora, enfrentando os desafios do presente, tão numerosos. Na Semana Nacional de Museus encontramos outras instituições, com alguns desafios em comum e outros não, com as quais dialogamos. É, portanto, sobretudo, oportunidade de diálogos, não só com outros museus, mas também com universidades, instituições diversas e a comunidade. No processo de comunicação com o outro refletimos sobre nós mesmos, nos refazemos no presente ao reimaginar futuros.

Autoria: Vanessa Spinosa e Tiago Tavares e Silva

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One Comment

  • Acho incrível o trabalho desenvolvido por vcs!

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