As mulheres sempre estiveram presentes nos movimentos de contestação e mobilização ao longo da história. A participação ativa e protagonista de muitas mulheres, de diferentes formas, pela luta dos direitos femininos marcaram a vida social. No dia 8 de maio, data escolhida mundialmente para comemorar o Dia da Mulher, vamos saber um pouco da história de Júlia de Medeiros, uma mulher à frente do seu tempo, que lutou pelos seus direitos, encontrando na educação uma forma das mulheres ocuparem novos espaços.
Lembrar da história das mulheres, inclusive no Seridó, é lembrar de um passado (que se faz presente) de omissão, no qual a mulher não tinha espaço, nem voz. A submissão à figura masculina era comum. Porém, Júlia de Medeiros contribuiu para acabrunhar esse paradigma com sua forma de viver, trabalhar e atuar em esferas costumeiramente destinadas aos homens. Ela teve sua vida dedicada a uma práxis educadora, crítica e soberana.
Júlia Augusta de Medeiros, mais conhecida como Júlia Medeiros, nasceu em 28 de agosto de 1896, na Fazenda Umari em Caicó-RN. Filha de um fazendeiro muito rico e com influência da família em 1921 foi morar em Natal, retornando em 1926, diplomada professora. Foi docente e diretora interina do Grupo Escolar Senador Guerra, destacando-se por seus métodos de ensino inovadores e no pioneirismo na luta pelos direitos femininos.
Seus últimos anos foram marcados pelo adoecimento mental, ao qual se tem poucas fontes, embora possamos especular… Seria o desgaste de anos batendo de frente com uma sociedade patriarcal e suas fortes instituições? É uma possibilidade. O segundo fator a se observar, já pesquisado por Magali Engel em História das Mulheres no Brasil, coletânea de artigos organizada por Mary Del Priore, é a relação entre a psiquiatria e a feminilidade. Engel reflete sobre toda uma prática e discursos médicos, formados desde fins do século XIX, que procurava disciplinar mulheres numa dada ordem social e cultural, na qual as dissidentes, quando acompanhadas de certos sintomas, eram associadas à histeria e distúrbios diversos. Esse parece ser o caso em tela.
Enfim, ela atuou em diversas áreas: política-partidária, enquanto vereadora; política-social, pois foi a primeira mulher a votar em sua cidade natal, Caicó; gestão, ao dirigir o Hospital do Seridó; jornalismo, na edição do Jornal das Moças; e magistério, atuando na educação básica. Todos esses papéis em uma só mulher gerava confusão e reação. Uma mulher sendo várias, buscando ser, dentro das possibilidades concretas, senhora de sua vida, cria dissonâncias numa sociedade patriarcal e conservadora. E é a dissonância que abre espaço a outras mulheres, cada vez menos em atuações solitárias, na construção do mais sólido caminho de transformação, que é a organização coletiva. Assim, ao viver, lutar e dar inspiração pelo exemplo, Julia Medeiros vai além de sua vida e suas ações.
Autoria do texto: Guilherme Augusto da Cruz Costa, Joana Beatriz da Silva e Tiago Tavares e Silva