O museu como lugar de encontro: perspectivas a partir do Museu do Seridó num tempo de isolamento

O museu é, por excelência, o lugar do encontro. Público, coleções e profissionais ou, em outros termos, comunidades e suas histórias e memórias (ou recortes delas). Como pensar em lugares de encontro em tempos de isolamento social? É verdade que desde a segunda metade do século passado, tomando a famosa Mesa Redonda de Santiago de 1972 como símbolo, a noção de museu como espaço físico tem sido ampliada. Museus são também territórios e suas comunidades. E, com a internet e as redes sociais, o espaço também ganhou contornos virtuais faz já algum tempo.

Hoje, contudo, devido ao isolamento social para prevenção da Covid-19, o mundo museal sente a necessidade concreta de ser cada vez mais o que vem teorizando e experimentando nas últimas décadas. Os museus, assim como toda instituição, têm redefinido as formas de atuação. Por estar em processo de reabertura física, o Museu do Seridó já via essas formas de modo diferente da maioria dos museus quando começou o isolamento social. Não penso que tudo vá passar junto com o fim da pandemia, por duas razões.

A primeira é que as formas de interação via internet que foram fortalecidas com o público (seria injusto dizer que surgiram agora nos museus) mostram um alcance maior, mais contínuo contínua e prático a (pois nem precisa ser síncrona) que os meios presenciais. O Museu do Seridó vem atuando nesta interação virtual através de suas redes sociais de forma assídua, assim como outros museus, mesmo antes da pandemia. Mas, como já apontado, a situação nos faz enxergar esse processo comunicativo virtual com outros olhos, nem sempre apenas “complemeantar”. 

O museu como lugar de encontro: perspectivas a partir do Museu do Seridó num tempo de isolamento

Temos, por outro lado, a consciência que não se trata meramente de alimentar as redes sociais do nosso Museu. É um processo de troca, sem um desenvolvimento linear, justamente porque a comunidade é um elemento ativo no processo de comunicação. Temos justamente conversado com a comunidade (com intenção de intensificar mais essa relação), entendendo esse método como fundamental para a consolidação de um museu crítico.

A segunda é que a pandemia certamente será (ou já está sendo) musealizada. A experiência dolorosa pela qual os museus e todos nós passamos é um episódio significativo na história humana. Diferente da Revolução Francesa ou Segunda Guerra Mundial, ela não afeta todo o mundo de forma indireta, muito desigual, às vezes distante. Mesmo o menor e mais afastado bairro de uma pequena cidade do interior tem vivenciado fortemente a pandemia, modificando seus hábitos. Os museus de região têm uma alteração de vida significativa para refletir nos territórios que os formam. 

Vemos, assim, não apenas algo que o Museu tenha presenciado em seu território ou em um tempo passado. Não se trata sequer de um fenômeno que passou e faz seu eco hoje, nem uma coisa exclusiva de sua comunidade. As equipes dos museus têm enfrentado o mesmo que padeiros, estudantes, desempregados, crianças, idosos, ricos e pobres de todas as partes do mundo (embora as condições para o enfrentamento do problema sejam bem diversas). Isso não apenas é/será tema nos museus, mas tem modificado a própria forma deles conservarem, pesquisarem e comunicarem, como estamos praticando no Museu do Seridó. 

Autoria: Tiago Tavares

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