Como é resistir nos sertões

Desde os anos 1990, o acervo do Museu do Seridó, no estado do Rio Grande do Norte, é um espaço universitário. Localizado no edifício que foi a antiga Casa de Câmara e Cadeia do município, só em 2003 tornou-se um prédio da UFRN. Depois de um período de grande atividade até início do século XXI, com uma participação ativa da comunidade, visitações escolares e vários projetos culturais e de extensão, o museu sofreu um grave silenciamento. Após o seu fechamento – decidido pela justiça no intuito de adaptar o edifício para torná-lo acessível e só depois reabrir – poucas ações foram efetuadas, sobretudo quanto ao cuidado com o acervo e contato com a comunidade.
É certo que este tempo de inatividade trouxe consequências para o espaço físico. O Museu do Seridó está carente de uma adaptação e de reformas importantes que demandarão um custo significativo para a Universidade, que já luta para manter seus orçamentos básicos para existir. Mas, o tempo também trouxe consequências para a relação do museu com a comunidade. E é sobre isso que poderemos refletir neste texto.

Como é resistir nos sertões


No sertão do Rio Grande do Norte, em Caicó e região, há um sentimento de pertencimento muito imponente. Há quem estude este viés social e antropológico do Seridó potiguar e avalie que ali é o único lugar onde encontramos uma identidade cultural sólida no estado. Veja lá, prezada pessoa leitora, avalie a situação em que este equipamento cultural está imerso. Ele está diante de um povo que valoriza e ama suas tradições, sua cultura e se reconhece em sua ecologia, formas de fazer e tudo
o que se relacione com a identidade de ser seridoense. E, nesse sentido, é como se um museu silenciado ou em silêncio – você decide – traísse toda essa construção identitária, não a valorizandocomo deveria.
Então, como resistir nos sertão seridoense? Será que o museu é um personagem ingrato na sociedade que tanto ama o que é, ou seria ele uma vítima de uma cultura política e econômica que não valoriza seus pontos de memória, como lhe era suposto?
Mas, para que não haja apenas dilemas, há alguma luz. Diante desse cenário, uma equipe visionária e resistente se levantou pelo Museu do Seridó. Houve reação, pois entendemos que sim, que somos a universidade e temos o dever de fomentar a educação não-formal, devemos nos mobilizar como ponto de memória e de disseminação da cultura seridoense e, por isso, temos que tentar. Historiadoras e
historiadores, mais algumas outras áreas do conhecimento da UFRN – docentes, servidores e discente e alguns voluntários e voluntárias da região se mobilizaram para que o espaço museal pudesse se reerguer. Vale ressaltar, que há um suporte importante da Universidade, sobretudo um corpo técnico e especializado, trazendo não só a museologia, a engenharia ou a arquitetura, mas serviços gerais e bolsas de extensão e de apoio para o Museu. Contudo, a despeito de todo este esforço, há um fosso imenso entre o que se sonha e o que se tem, financeiramente, para materializar tudo o que estas forças erguem e sonham.

Como é resistir nos sertões


Mas, qual o museu em nosso estado, dirá em nosso país, que não sonha e luta? E, sobretudo, qual o ponto de memória que não insiste e resiste, não é mesmo, cara pessoa leitora?

Sigamos. Há muita história pela frente e este é só o começo.

Autoria: Vanessa Spinosa
Revisão: Nerdenglish revisão e tradução.

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