Por Fredi Jon
A noite em Arujá estava fria — um inverno que fazia o vento cortar o rosto e a respiração sair em pequenas nuvens brancas. Éramos um trio, levando na bagagem instrumentos, vozes e o calor de uma surpresa planejada com carinho. Cleide havia nos chamado para celebrar o aniversário de seu marido, e a casa já nos aguardava com expectativa.
Entramos em cena sob o brilho tímido das luzes de varanda. A primeira música rompeu o ar gelado, aquecendo corações. Havia abraços, olhares cúmplices, e aquela atmosfera única que só uma serenata cria: o tempo desacelera, os problemas se esquecem, e o mundo se resume a vozes, cordas e afetos.

Depois do último acorde, partimos com a sensação de missão cumprida. Mas ao pegar a estrada, uma agulha traiçoeira no painel nos encarou: o marcador de combustível já estava encostado no vermelho.
“Vai dar pra chegar?”, alguém perguntou. Eu preferi não responder. A chuva fina do início da noite agora se tornava mais intensa, e a estrada parecia engolida pela escuridão. Os poucos pontos iluminados no caminho faziam o coração acelerar: “Será um posto? Será a nossa salvação?”. Mas eram sempre oficinas fechadas, lojas vazias ou placas antigas de publicidade.

Decidimos poupar combustível. Mantivemos a velocidade baixa, tentando ganhar embalo nas descidas. Foi quando, em meio a uma curva, avistamos a sombra de um posto — um letreiro apagado, uma bomba enferrujada, e uma luz fraca que tremeluzia como se tivesse medo de acender.
A estrada de acesso não era óbvia. Parecia mais um caminho de serviço, estreito e torto, quase nos fazendo dar meia-volta. Quando finalmente chegamos, a cena era digna de um faroeste: o lugar estava vazio, sem frentistas, sem movimento, apenas o vento frio assobiando entre as bombas. Se um cavalo tivesse passado trotando, não teria estranhado.

O tanque agora ameaçava nos deixar a pé. Saímos dali com a tensão no ar e o limpador de para-brisas marcando o ritmo do suspense. Alguns minutos depois — longos como horas — vimos ao longe o brilho de um posto vivo, com gente, luz e, sobretudo, gasolina.
Abastecemos rindo de nervoso, ainda meio incrédulos com a aventura. No banco de trás, alguém comentou:
— “Isso vai virar história de serenata, né?”
E virou.
No fim, aquela noite não foi só sobre levar música a um aniversário. Foi sobre voltar pra casa com a sensação de que, na estrada da vida, até a gasolina acaba,mas as histórias, essas continuam.
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