400 anos de Molière, o pai da Comédia Francesa

No último dia 15 de janeiro, comemorou-se, na França e em outros lugares do mundo, o 400° aniversário de Molière, o famoso dramaturgo do século XVII. Ao todo, escreveu cerca de 30 comédias, tanto em verso quanto em prosa. É o caso, por exemplo, de “O misantropo”, “O burguês fidalgo”, “O avarento” e “O doente imaginário”, a última escrita.

Esta eu tive o prazer de assistir em 2018, numa adaptação da Cia Limite 151, no Teatro Eva Hertz, no Rio de Janeiro. A história se baseia em um homem rico e avarento, vítima de hipocondria, que deseja que a filha se case com um médico para que ele consiga consultas gratuitas. Molière, originalmente, fazia o papel do protagonista, Argan, e corriam rumores de que havia morrido em cena, mas não foi verdade. No entanto, a superstição no teatro de que o verde trás má sorte teve origem aqui, nas roupas que o ator e dramaturgo usava em cena.

O texto de Molière é genial, ácido, mordaz. No entanto, ao longo do século XVII, foi alvo de muitos questionamentos. Alguns defendiam que quem escrevia suas peças era Corneille. Outros acreditavam que o sarcasmo de suas comédias era uma representação de sua vida ordinária de homem traído e sofrido. Apesar disso, a popularidade de sua obra nunca foi posta em dúvida.

“A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos”. (Molière, sem data)

Georges Forestier escreveu, em 2018, uma biografia de Molière e, sobre esse personagem, afirmou: “De certo modo, ele é um ator que se transforma em autor. É um autor que pensa suas obras a partir das imposições da cena, da aprovação do público, do efeito que terá no público. E também porque deve alimentar sua trupe”. A trupe faz referência ao “Teatro Ilustre”, a companhia que Molière criou em 1643 junto com outros dez atores.

Seu pai era estofador real e, apesar de ter renunciado à herança para seguir carreira como ator, mantinha certa proximidade com a nobreza. Assim, chegou até a atuar para Luis XIV, entusiasta do teatro e do balé, em 1658. No entanto, seu espírito provocador não permitiu que caísse nas graças de todos com facilidade. Criticara desde a educação da elite em “Escola de Mulheres”, até os beatos em “O tartufo ou o impostor”.

Com suas peças, Molière criou o gênero “Comédia moral”. O objetivo era, portanto, corrigir vícios e desvalores da sociedade através do riso.

Assim como no teatro, a vida de Molière, nascido Jean-Baptiste Poquelin, também era cheia de surpresas e suspenses. Sua certidão de nascimento, por exemplo, só foi encontrada mais de dois séculos depois do seu nascimento. Não há, aliás, nenhum manuscrito, diário, correspondência ou nota sobre seus escritos. Esprit-Madeleine, única filha viva de Molière, perdeu todos os documentos. Além disso, a primeira biografia foi publicada em 1705 e contou com muitas lacunas e erros. Tudo isso contribuiu ainda mais para as lendas acerca do autor.

Molière usou a cadeira em cena durante 'O Doente Imaginário'
Cadeira de Molière em “O doente imaginário”. Fonte: BERTRAND GUAY / AFP.

Foto de capa: La Nación

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