Degas, Renoir, Relógio de Orfeu e outras coisas

Simon Goodman é um londrino, especialista em divulgação de novos músicos ingleses, que acabou imerso nas histórias sobre as obras de arte da família que foram roubadas pelos nazistas. Vou explicar melhor: é herdeiro dos grandes bancários do Banco Dresdner da família judia Gutmann. Ela foi perseguida e morta em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e que precisou “inglesar” o nome, daí o Goodman.

O autor pouco sabia sobre a sua família durante esse período e o seu pai, Bernard, havia começado em segredo a busca, com pouquíssimo sucesso, pelas obras perdidas. Essa missão passaria para Simon após a morte de seu pai e este se tornaria o primeiro caso estadunidense de devolução de saques nazistas (que tornou-se um livro, “Degas, Renoir e o Relógio de Orfeu: a busca pelas obras de arte da minha família roubadas pelos nazistas”)

“Quando embarquei nessa busca pelos tesouros perdidos da minha família, uma solução para o meu pesar subjacente emergiu. Quanto mais eu traçava nossas obras de arte ocultas, mais a história enterrada da minha família ressurgia. Quando eu encontrava mais uma peça do despedaçado quebra-cabeça, vidas perdidas se tornavam tangíveis novamente. Com cada peça, vinha uma ligeira renovação do orgulho. Hoje, sinto-me confortado pelo fato de saber meu lugar em tudo isso, Já não sofro com um isolamento sem raízes. Minhas origens são amplas e profundas, com ancestrais de muitos séculos e familiares em quatro continentes.” (p. 327)

Os sentimentos de angústia e aflição – em meio a todos os absurdos que o autor ouviu e às dificuldades por falta de registro – permeiam toda a narrativa, mas são acompanhados por uma vontade imensa de encontrar, o que quer que fosse e onde quer que fosse. As memórias de Simon se mesclam às histórias sobre as obras pertencentes à família: por exemplo, o retrato de Eugen Gutmann, bisavô de Simon, feito por Franz von Lenbach, um reconhecido pintor realista alemão.

Fotografia de Simon Goodman ao lado do retrato de Eugen Gutmann, seu bisavô, pintado por Franz Von Lenbach. Fonte: https://www.bbc.co.uk/programmes/p070c89g

Além dessa, outras obras marcantes da história da arte faziam parte da coleção privada de Fritz Gutmann e Louise von Landau, avós do autor, como: “Tentações de Santo Antão”, de Hieronymus Bosch; “Paysage”, de Edgar Degas; “Le Poirier”, de Pierre-Auguste Renoir; e  “Retrato de um jovem com chapéu vermelho”, de Sandro Botticelli.

Capa do livro

É um livro denso, por vezes cru, por outras sensível. É sobre colecionismo, patrimônio, mercado de arte, saqueamento; mas também é sobre o papel essencial da arte na sociedade, sobre família, determinação. É um relato em construção, com descobertas e frustrações constantes.

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