Curiosidades sobre a obra Abaporu

A obra “Abaporu”, uma das mais icônicas pinturas do Brasil e da arte moderna mundial, carrega consigo não apenas uma imensa carga cultural, mas também uma história rica em curiosidades e técnicas artísticas que marcaram época e influenciaram gerações.

O Significado e a Origem do Nome

Pintada por Tarsila do Amaral em 1928, “Abaporu” é considerada a principal peça da arte modernista brasileira. O nome é de origem tupi-guarani e significa “Homem que come gente”, remetendo à figura do canibal. Segundo a pesquisadora Aracy Amaral, essa simbologia foi a centelha para a criação do Manifesto Antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade, que buscava a deglutição cultural de influências europeias para a criação de uma arte genuinamente brasileira (Amaral, 1975).

A Figura Singular e a Composição

A figura retratada em “Abaporu” possui características até então incomuns na arte: um corpo desproporcional com um pé enorme, uma cabeça pequena e um braço magro que segura a face em aparente reflexão. Esta imagem simboliza a força e a conexão do ser humano com a terra, destacando a robustez das raízes brasileiras. O pé gigantesco, elemento central da pintura, sugere o trabalho e a fundação da identidade em bases populares e autênticas. Conforme o historiador de arte Jorge Coli, a obra representa uma ruptura significativa com os paradigmas europeus da época (Coli, 2002).

Técnica e Paleta de Cores

Tarsila do Amaral empregou uma técnica de pintura a óleo sobre tela, com uma paleta vibrante, mas que segue uma harmonia de tons sutis que ressaltam a simplicidade do cenário. O fundo azul claro e o toque de verde na vegetação destacam a figura central de maneira impactante, mas sem excessos. A escolha do amarelo quente para o corpo humano dialoga com o sol, que aparece ao fundo como um ponto de intensidade que ilumina e aquece a obra. De acordo com a análise de Tomás Llorens, especialista em arte latino-americana, a paleta de Tarsila é fundamental para capturar o espírito tropical e vibrante do Brasil (Llorens, 2018).

O Impacto Cultural

“Abaporu” transcendeu sua existência como um quadro e se tornou um símbolo de renovação artística e cultural no Brasil. Ao unir elementos europeus modernistas com a narrativa de uma identidade nacional independente, Tarsila abriu caminho para que outros artistas questionassem, reinventassem e criassem uma arte que refletisse as singularidades e a pluralidade da cultura brasileira. Segundo o crítico de arte Paulo Herkenhoff, “Abaporu” é uma obra que instiga a busca por uma linguagem que celebra a autenticidade e diversidade do Brasil (Herkenhoff, 1998).

A obra, hoje, pertence ao acervo do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), onde continua a encantar e intrigar visitantes do mundo todo, reafirmando sua posição de destaque na história da arte.

Curiosidade: Presente e Inspiração

“Abaporu” foi originalmente um presente de Tarsila a Oswald de Andrade em seu aniversário, simbolizando não apenas um laço pessoal, mas uma verdadeira ode ao amor pela cultura nacional e pela quebra de paradigmas. Essa pintura e seu contexto se mantêm como um convite eterno para a reflexão e a celebração da identidade brasileira em todas as suas formas. Segundo depoimentos da própria Tarsila, mencionados em biografias de Maria José Justino, o presente carregava uma mensagem de estímulo à criação de uma nova estética e mentalidade para o país (Justino, 2000).

Foto: Uma mulher em frente à obra “Abaporu”, na exposição “Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil” no Museu de Arte Moderna de Nova York em 6 de fevereiro de 2018 – AFP

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