Por Fredi Jon
Meu amigo e astrônomo Paulo Duarte costuma lembrar que tudo o que vemos no céu faz parte do passado. A lua, que tantas vezes inspira minhas serenatas, as estrelas que piscam no silêncio da noite e até mesmo o Sol que nos aquece chegam até nós com um atraso. Cada olhar para o firmamento é, na verdade, um mergulho em um tempo que já se foi, um registro luminoso daquilo que já não existe.
Essa constatação científica, tão exata quanto poética, abre espaço para uma reflexão necessária: se no céu nada é presente, por que na Terra insistimos em ignorar que também vivemos cercados pelos ecos do passado? A história humana é pródiga em feitos grandiosos, em momentos que abriram caminhos, mas também em tragédias, guerras, autoritarismos e injustiças que ceifaram vidas e valores. O homem, que se orgulha de ser racional, não deveria se permitir esquecer tais marcas. Ainda assim, repete-as com teimosia quase infantil.
Nas rodas de família, nos encontros entre amigos, somos guiados pelas memórias afetivas. Recontamos o que nos fez sorrir, reforçamos lembranças que aquecem o coração. No entanto, nossa memória é seletiva: tende a apagar o lado sombrio. Empurramos erros, dores e falhas para o esquecimento, como se silenciar fosse suficiente para curar. Mas não é.
Assim como a luz de uma estrela morta continua brilhando, os erros esquecidos seguem iluminando o presente de maneira enganosa. O brilho encanta, mas a ilusão é perigosa: quando não encaramos nossas quedas, abrimos espaço para tropeçar nos mesmos abismos.

A pergunta que não quer calar é dura: aprendemos, de fato, algo com o passado? Se somos racionais, por que ainda aceitamos repetir as mesmas loucuras? Por que insistimos em reabrir feridas que poderiam nos ensinar a não errar mais? O perigo de uma memória adocicada é transformar a história em ficção conveniente, onde só cabem vitórias e onde os erros são negados.
O céu nos ensina que tudo tem um tempo, e que nenhum presente chega sem estar ancorado no que já passou. A história, por sua vez, nos alerta: ignorar os tropeços é escolher repeti-los. Talvez o verdadeiro amadurecimento esteja em não nos acomodarmos com as boas lembranças, mas em reconhecer também as marcas do que nos fez chorar.
Afinal, entre estrelas, memórias e história, permanece a interrogação que define nossa própria condição: seremos capazes de aprender com o passado ou continuaremos preferindo viver apenas do brilho que nos ilude?
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