O que pode significar um novo ano para os museus?

O que pode significar um novo ano para os museus?

Desde as regulamentações de 2009 e 2013 os museus têm cada vez mais feito planejamento de modo oficial. Elas se referem, dentre outras coisas, à elaboração e implementação do Plano Museológico, exigência legal imposta a todos os museus, instituída pela Lei nº 11.904/09 e pelo Decreto nº 8.124/2013. A oficialização também teve efeito prático porque muitos museus acabavam não planejando a médio/longo prazo suas ações. Nossa cultura é de novos planos a cada dúzia de meses, as velhas e conhecidas “promessas de fim de ano” a serem cumpridas (ou não) no ano que se avizinha. No caso dos museus, no entanto, o citado planejamento é quinquenal. São colocados no papel os planos para as diversas áreas que compõem um museu, como pesquisa, segurança, arquitetura, mídia, exposições etc. a cada cinco anos. Também entra o diagnóstico do museu, inclusive como necessário para a realização do que se pretende tirar do papel.

Isso não quer dizer que haja incompatibilidade entre a cultura popular do planejamento anual e a oficial quinquenal do museu. Os museus desmembram seus planejamentos quinquenais em execuções anuais. Em outras palavras, a passagem do ano marca na subjetividade das pessoas uma possibilidade de mudanças e realizações, mas também nas instituições, o que no caso dos museus pode se desenhar mais concretamente no que, dentro do Plano Museológico, se pretende realizar nos próximos doze meses. Muitos museus fazem seus planos anuais, os quais precisam, claro, estarem em consonância com o Planejamento Museológico. Esses planos contém o conjunto de ações a serem realizadas no ano. 

Cada museu tem suas condições particulares, como todos nós que trabalhamos em museus ou os visitamos sabemos. No Museu do Seridó pretendemos, ainda no primeiro trimestre, finalizar a limpeza e arrolamento do nosso acervo. Esse ponto é primordial para qualquer museu, pois o domínio do seu acervo é significativa parte de sua própria identidade. Daí segue o descarte e a catalogação, ainda em 2022. 

Paralelamente pensamos em dar um novo rumo à nossa exposição Devoções do Seridó, pesquisando devoções de milagreiros, pessoas que os devotos atribuem a capacidade de realizar milagres, mas que não foram reconhecidas oficialmente pela Igreja Católica. Esse caminho abre espaço para ampliarmos nossos estudos sobre as crenças populares na região, incluindo personalidades que são, em comparação com as contempladas anteriormente pela Exposição, bem mais recentes e etnicamente diferentes. 

Também é importante a consolidação das programações anuais. Grande parte dos eventos, não só museológicos, são anuais. A participação de um equipamento cultural nesses encontros deve ser perene, o que mostra sua solidez, compromisso e longevidade. É a partir disso que seu público se fideliza ainda mais e seu projeto passa a ter corpo sólido junto à comunidade da qual faz parte. É essa comunidade que está no evento todo ano e, justamente por estar lá todo ano, todo ano isso é esperado, assim como as datas comemorativas. No nosso caso: Primavera dos Museus e Semana Nacional dos Museus, organizadas pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

No entanto, o ano não pode ser uma eterna repetição. Deve ser um equilíbrio entre o mínimo de previsibilidade e inovação. Deve ser, com perdão do paradoxo, uma “inovabilidade” previsível. O público espera dos seus museus é que sejam sólidos e presumíveis, por um lado, mas que, por outro, inovem constantemente, cative seu público com surpresas. Imprescindível lembrar que tais inovações devem ter um lastro no próprio público, na própria comunidade. É pra isso que servem as pesquisas de opinião do público feitas pelos museus. 

O ano que entra é, portanto, parte de um conjunto temporal que o museu bem planejado deu sentido organizativo e, ao mesmo tempo, um conjunto temporal que o museu criativo usa para alargar seu público e diversificar seus métodos. É essa aparente contradição que anima os museus a entrarem em um novo ano.

Autor: Tiago Tavares e Silva

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