Museu Henri Matisse em Nice, cidade onde o artista produziu a maior parte de sua obra

Filho de um rico comerciante de grãos, Henri Matisse nasceu em Cateau-Cambrésis, no norte da França em 1869, estudou Direito em Paris e trabalhou em sua cidade natal como administrador judicial. Aos 20 anos, Matisse começa a pintar quando precisa ficar em repouso por uma crise de apendicite e sua mãe, uma pintora amadora, o entrega materiais de pintura para distraí-lo. Assim, decide se dedicar à arte e matricula-se em uma academia de artes, passando também horas no Museu do Louvre copiando seus mestres.

Junto de outros artistas, Matisse participou do Salão de Outono em 1905, expondo a obra “A mulher com chapéu”, deixando o público escandalizado com sua pintura. O crítico de arte Louis Vauxcelles, ao ver as obras, afirmou que as pinturas pareciam “feras”, referindo-se as cores vibrantes e pinceladas fortes, tornando o grupo conhecido como os “fauves” (feras, em francês) e Matisse como líder. Os fauvistas se caracterizaram pelo uso das cores vibrantes, normalmente utilizando cores puras e aplicadas diretamente do tubo de tinta.

Em 1905, Matisse pinta uma de suas pinturas mais famosas: A dança. A obra possui duas versões, sendo que a primeira foi realizada como estudo da composição com cores mais fracas e menos detalhes, atualmente localizada no Museu de Arte Moderna de Nova York, e a segunda como obra final, localizada no Museu Hermitage. A obra foi encomendada por um colecionador russo para seu palácio em Moscou, juntamente com a obra “A música”. Inspirado nas danças folclóricas com natureza ritualística dos tempos pagãos, Matisse conta em uma carta que escolheu “para o céu um belo azul, o mais azul dos azuis, e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos”.

Henri Matisse, A dança (Primeira versão), 1909. Museu de Arte Moderna de Nova York/Henri Matisse, A dança (Segunda versão), 1909. Museu Hermitage.

Em 1909, Matisse inaugurou a sua própria academia de artes, com mais de cem alunos até 1911. Publicou ”Notas de um Pintor”, texto fundador do seu pensamento artístico, traduzido e distribuído por toda a Europa. Em 1930, aos 61 anos, Henri Matisse conheceu Albert Barnes, um americano colecionador de arte moderna, criador da Fundação Barnes, na Pensilvânia. O colecionador encomendou um painel, deixando o artista livre para escolher o tema. Assim, a temática da dança aparece novamente na obra de Matisse e ele realiza três versões do painel “A dança”, pois ele considerou que a primeira versão era muito decorativa e que errou as medidas para a arquitetura do local na segunda tentativa.

Em 1941, outra doença influencia seu processo criativo. Acometido de um câncer abdominal, foi hospitalizado, onde os médicos deram-lhe seis meses de vida. Sem poder viajar, utilizou experiências recolhidas em suas viagens para aperfeiçoar sua originalidade e iniciou a técnica de recorte. Assim, Matisse começou a desenhar com a tesoura, recortando formas em papéis pintados e compondo obras. O prognóstico médico de seu falecimento não se confirmou e, em 1943, o artista lançou o livro “Jazz”, que apesar de seu título musical, provavelmente nomeado devido à natureza experimental e improvisada de suas composições, contava com temas circenses, reminiscências de viagens, histórias do repertório popular e o teatro.

Entre os anos de 1947 e 1951, o artista pintou a Capela de Nossa Senhora do Rosário em Vence, sul da França, com 90m² decorados com três painéis de traços pretos sobre cerâmica branca e dois jogos de vitrais em verde, azul e amarelo. Para Matisse, a capela é como um livro, cujas páginas são coloridas.

Minha única religião é a do amor pela obra a criar, o amor pela criação e pela grande sinceridade. Fiz essa capela com o único sentimento de me exprimir a fundo

Matisse em carta

Capela de Nossa Senhora do Rosário em Vence
Capela de Nossa Senhora do Rosário em Vence

Colando os seus recortes nas paredes de seus ateliês, o artista inicia o processo da criação de murais com formas. Em um dos primeiros, Matisse cortou uma andorinha e pediu para sua assistente colar na parede, para tampar uma mancha e nas semanas seguintes, outras formas foram recortadas e colocadas na mesma parede. Assim, surge a obra “Oceania, o Céu e Oceania, o Mar”. Em certo momento, Matisse pediu para sua assistente o levar em sua piscina favorita em Cannes para ver os nadadores. Como estava muito sol, eles voltaram para casa e o artista decidiu fazer sua própria piscina, pedindo que sua assistente circundasse as paredes de sua sala com uma faixa de papel branco, posicionada um pouco acima de sua cabeça. Matisse então cortou seus próprios mergulhadores, nadadores e criaturas marinhas de papel pintado em um azul.

Henri Matisse, A piscina, 1952. Museu de Arte Moderna de Nova York

Ao longo de sua trajetória, Matisse viajou para diversos países, como Marrocos, Espanha, Alemanha, muitas cidades da França e para o Taiti, assim como o artista Paul Gauguin. O artista viajava com sua esposa, amigos e outros artistas a fim de estudos para a pintura. Todas essas viagens foram referências fundamentais para a obra de Matisse, uma vez que ele sempre buscava inspirações nos locais que conheceu, nos quais o artista adquiriu e colecionou objetos de várias culturas, como arte oceânica, arte africana, arte do extremo oriente e arte islâmica.

Além disso, ele também comprou obras de William Turner, Paul Gauguin, Auguste Rodin, Paul Cézzane e Van Gogh. Envolvido com o mercado de arte, o filho de Matisse, Pierre, trabalhava como marchand, negociando obras de arte. Pierre teve uma galeria, localizada em Nova York, especializada em arte moderna e contemporânea europeia e americana e realizou exposições de Georges Braque, André Derain, Marc Chagall,  Joan Miró, Pablo Picasso, etc.

O artista faleceu em 1954, em decorrência de um infarto. Apaixonado pela arte e pela vida, Matisse dialogou com várias linguagens artísticas, como a escultura, pintura de telas e murais, ilustração de livros, técnica de recortes e até mesmo a criação de figurinos para espetáculos de dança. Com a missão de preservar a obra de Matisse, a família do artista doou a maioria de suas obras para o Museu Matisse em Nice, na França. Inaugurado em 1963, o museu possui um acervo que inclui 31 pinturas, 454 desenhos e gravuras, 38 recortes e 57 esculturas, abrangendo todos os períodos da produção do artista, além de mais de 400 formas para seus recortes não utilizados por Matisse em suas composições. Além disso, o museu é um dos únicos da Europa que conserva quase todas as esculturas do artista. A maioria das obras são diretamente do ateliê de Matisse, doadas pela família.

Museu Matisse

A história do Museu Matisse em Nice está intimamente ligada ao interesse de Matisse pela cidade, visto que o artista visitou e morou em Nice em várias fases de sua vida e foi o local onde produziu a maior parte de sua obra. Em uma carta, o artista revela que “a maioria vem aqui (em Nice) pela luz e pelo pitoresco. Eu sou do Norte. O que me fixou foram os grandes reflexos coloridos de janeiro, a claridade do dia”. A casa que abriga o museu é da prefeitura de Nice e foi escolhida por ser um ponto histórico da cidade, além de ser próxima da casa em que Matisse morou. 

Para conhecer mais sobre o museu, acesse o link: https://www.musee-matisse-nice.org/en/

Museu Matisse

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