A Era da desconexão humana

Por Fredi Jon

Vivemos tempos em que a empatia, aquela capacidade essencial de se colocar no lugar do outro, parece estar se tornando uma espécie em extinção. O ser humano, tão avançado em tecnologia e conquistas materiais, parece regredir no campo mais essencial: a convivência.

A impaciência se tornou marca registrada. Assuntos básicos como escuta, diálogo e respeito ao tempo do outro tornaram-se incômodos. As interações humanas, muitas vezes, se resumem a respostas rápidas, impessoais, e a uma urgência que sufoca a sensibilidade. A psicóloga Sherry Turkle, no livro “Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age”, alerta que a hiperconexão digital está, ironicamente, nos afastando uns dos outros, corroendo nossa capacidade de empatia e escuta profunda.

Além disso, a intolerância às ideias divergentes se alastra. A pluralidade, que deveria enriquecer os debates, virou motivo de confronto. O filósofo Zygmunt Bauman, em “Tempos Líquidos”, já nos advertia: numa sociedade onde tudo é fluido e instantâneo, relações humanas profundas e duradouras são substituídas por vínculos frágeis, o que gera insegurança e medo do diferente.

Essa intolerância, por sua vez, caminha ao lado de um fenômeno preocupante: a desvalorização do pensamento crítico. Segundo um estudo publicado pela UNESCO em 2023, há uma tendência global de redução na capacidade de leitura interpretativa e argumentativa, especialmente entre adultos jovens. A facilidade de acesso à informação não se converteu, como se esperava, em sabedoria, pelo contrário, gerou o que Neil Postman chamou de “entretenimento do pensamento”: muitos opinam, poucos refletem.

Estamos emburrecendo, não por falta de dados, mas por falta de tempo e disposição para processá-los com profundidade. A superficialidade das redes sociais molda nossa forma de pensar e reagir. Como escreve Byung-Chul Han em “A Sociedade do Cansaço”, vivemos em uma era onde o excesso de positividade e performance sufoca a introspecção e o cuidado com o outro.

É urgente reumanizar nossas relações. Recuperar o diálogo, a escuta, o tempo para o outro. Empatia não é luxo, é sobrevivência. E enquanto não percebermos isso, continuaremos a perder aquilo que nos torna verdadeiramente humanos.

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